sábado, 14 de novembro de 2009

PAGANDO AS CONTAS

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Fazia um tempo irresponsável que eu não via o dia nascer!

Então, ontem, antes do sol num dia azul bem claro, antes de dar uma volta turística na cidade que dormia cedo, antes de sambar "Essa Moça Tá Diferente" enquanto segurava uma tulipa pela metade, antes mesmo de receber o certificado das 16 horas de curso que passaram voando e não foram suficientes para tanta água represada entre os produtores goianieses reunidos, uma voz das que cantam por aqui como pepitas de ouro na areia, já quase cansada da peneira, disse sobre a mobilização cultural: "- Não sei compreender o que há com as pessoas hoje em dia que não se comovem com mais nada. Não sei se é o capitalismo que fez o mundo não ver nada de interessante em participar de algo em que a recompensa não seja exatamente em dinheiro, ou se a modernização foi fazendo tantos insensíveis." - e me pareceu a peça sumida do quebra cabeças.

Eu ainda lembro de pessoas que moviam céus e terra para cantar duas horas inteirinhas e serem premiados com cota de cerveja e uma mala cheia de momentos inesquecíveis junto ao público para se juntar à bagagem.

Lembro de gente que gerenciava bar aos trancos e barrancos com dedicação de proprietária e por mais de uma vez rateou contas do próprio bolso apenas pela satisfação de promover ali encontros interessantíssimos e prazerosos.

Pessoas que dedicavam as únicas duas horas diárias de descanso entre o trabalho, a faculdade e o sono, para ir contar histórias à crianças carentes que ainda não sabiam ler e ensinar brincadeiras novas que as deixassem ser crianças de verdade por uns instantes.

Lembro de gente que largou tudo o que tinha construido até então para ser parte natural das coisas porque entendeu que era esse seu chamado, ainda que para os outros o nome fosse apenas "loucura".

Não estou aqui dizendo que não é justo e necessário ter ganho e lucro financeiro com o trabalho que realizamos, ainda que seja também prazeroso. Todos precisamos ter com o que bancar a nossa dignidade. Mas continuo me perguntando o que há com as pessoas hoje em dia, que felicidade e sucesso não tem a ver com satisfação. E desde quando satisfação é sinômino leal de dinheiro?

Valores...

Madrugada inteira pontilhada de risadas, conversas interessantissimas, descobertas de semelhantes motivações, pessoas novas se achegando, passeio pelo caminho de todo dia com um olhar novo e sensibilizado e deixar o sol nascer morno no dia azul clarinho estabelecendo começo e fim enquanto os olhos ardiam de sono e o sorriso não cansava nunca.

Sempre foi a boemia das almas que transpiram cores, letras, idéias, formas, movimentos e música, que alimentou o mundo de soluções novas, mesmo que essa doação inconsciente fosse aos limites da exaustação do corpo e da mente.

Um brinde a todo começo de recomeço! A todo sopro de comoção que areja os pulmões! E que este brinde, com água ou champagne, seja sempre verdadeiro e mate a sua sede, a minha, e pingue no outro também!

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